TikTok revolucionou a forma como consumimos conteúdo na internet, mas isso pode ser um problema

Felippe Borges
3 min readSep 26, 2022

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As mudanças na Internet estão apenas começando.

Imagem do logotipo do TikTok
TikTok surgiu em 2016, mas bombou mesmo em 2020.

O isolamento social provocado pela pandemia nos trouxe uma série de consequências. Algumas pessoas passaram a sentir o que o jornal New York Times nomeou como “languishing”, um sentimento de apatia pela volta dos contatos sociais. Outras foram na direção oposta e precisaram extravasar todo o sentimento represado desses 2 anos em grandes festas, shows e festivais. Ainda estou surpreso que o Coldplay fará 6 shows só em São Paulo. E eu não consegui comprar um ingresso para nenhuma dessas datas.

Brincadeiras à parte, uma das mudanças de comportamento mais importantes que o isolamento social nos trouxe foi… o tédio. Uma grande parcela de jovens e adultos que pôde passar a pandemia em casa, de repente se viu sem ter o que fazer. Aí surgiram os hobbies: fazer pão, quebra-cabeças, aprender um novo instrumento (eu fiz todos esses) — era como viver uma utopia em meio ao caos.

Mas, como tudo, chega uma hora que aprender coisas novas ou não fazer nada cansa. E aí surge o TikTok. O TikTok já existia desde 2016, mas o seu boom mesmo foi em 2020. A ideia é simples: uma plataforma de vídeos infinita, fácil de mexer, em que você só precisa arrastar para cima para ver um conteúdo novo. Os vídeos são sempre curtos e se resolvem em 30 segundos (depois de alguns meses, a plataforma permitiu vídeos mais longos, mas os vídeos que mais geram engajamento continuam sendo os curtos).

Pode-se dizer que em 2020 mudamos a forma como consumimos conteúdo. Os vídeos do TikTok são viciantes porque entregam uma dose de satisfação em pouquíssimos segundos. E como a timeline é infinita, basta eu continuar rolando a tela para garantir doses extras de dopamina. O problema é que esse mecanismo pode se tornar viciante.

As mudanças do cérebro após o uso de plataformas como o TikTok.

Em artigo publicado pela revista NeuroImage, foi constatado que o uso imoderado de vídeos curtos, como os do TikTok, pode modificar a estrutura do cérebro devido a exposição constante de dopamina — neurotransmissor relacionado a satisfação. Com isso, sistemas de aprendizagem e memória são prejudicados e o hábito de ver vídeos, antes inofensivo, pode se tornar uma compulsão.

O que me chama atenção nisso tudo é que estamos vivendo uma grande revolução na internet. O estilo do TikTok já foi copiado por todas as grandes empresas de entretenimento do planeta. O Instagram adotou o Reels, o YouTube adotou o Shorts e até mesmo a Netflix já está criando conteúdos nos moldes da gigante asiática. E essa tendência apenas crescerá. Hoje, facilmente perdemos a atenção ao assistirmos um filme mais longo, ao ler um texto ou um livro, a ferramenta de acelerar vídeos tornou-se hábito e ouvir as pessoas falarem na velocidade normal passou a soar como perda de tempo.

Não é possível e nem é meu objetivo impedir o TikTok ou qualquer outra plataforma. Odeio ser aquele que nada contra a maré. No entanto, nós, usuários, pais e cuidadores, precisamos estar atentos e fazer um uso consciente da plataforma. Ainda está no começo e não conseguimos observar até agora todos os efeitos provocados pelo isolamento social, mas o que dá para perceber é que o TikTok veio e veio para ficar.

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