Psicanálise é ruim, mentirosa, anti-ciência?

Felippe Borges
3 min readNov 2, 2021

Recentemente, circulou no meu Twitter uma matéria de uma importante divulgadora científica do Brasil atual, Nathalia Pasternak, em que a mesma criticava a psicanálise chamando-a de “muita conversa fiada e nenhuma ciência”.

Pasternak, como eu relatei sem nenhuma ironia, é uma importante divulgadora científica do país. Seu trabalho como bióloga e microbiologista ficou bastante conhecido no contexto da pandemia de covid-19, em que questionou o presidente Jair Bolsonaro por suas ideias comprovadamente ineficazes de “tratamento precoce”.

Surfando nessa onda, Pasternak resolveu, então, espalhar a ideia da “ciência” e atacar outras ideias que fossem contrárias à ela — ou, ao menos, contrárias à aquilo que ela concebe como ciência.

Um dos alvos principais de Pasternak e seu instituto se tornou, então, a psicanálise.

Rodando alguns comentários sobre seus artigos, esse tweet tão inocente me chamou a atenção:

Ruim? Mentirosa? Pseudociência?

Não vejo problema em cientistas que optam em trocar de área ou investigar outros temas além de suas linhas de pesquisa. Conhecidos meus, por exemplo, trocaram a área do design para a história da arte e da história da arte para a tecnologia de informação. Desde que seja um trabalho ou pesquisas bem conduzidas, há méritos (e um pouco de oxigenação) nestas trocas.

O problema em trocar de área consiste em fazer afirmações estapafúrdias - como a difamação que o instituto de Pasternak promove à Psicanálise - sem ter o arcabouço suficiente da área da Psicologia e saúde mental.

Esse tweet postado acima me chamou a atenção por alguns motivos: o quanto este trabalho da pesquisadora está contribuindo para a estigmatização e perseguição de profissionais psicanalistas em consultórios e universidades?

E sim, universidades, ou você acha que a psicanálise não possui uma longa tradição acadêmica?

Não há problemas em fazer críticas à psicanálise. Terapias como a cognitivo-comportamental, comportamental e humanismo as fazem há mais de um século.

Por sinal, muitas dessas críticas ajudaram a psicanálise a se construir e reconstruir em uma infinidade de vezes. Destaco, por exemplo, o trabalho de Frantz Fanon que integrou à teoria psicanalítica as ideias dos efeitos da colonização no imaginário das pessoas negras.

O problema do instituto de Pasternak, diferente das críticas históricas à psicanálise, consiste em uma apreciação repleta de adjetivos que pouco se parece com ciência — embora queira se parecer com uma.

Ainda, contribui negativamente para uma forma de terapia em constante renovação e que contribui para a vida de milhões de pessoas.

Para complementar a leitura desse vídeo, recomendo assistir aos vídeos do psicanalista e professor titular da USP, Christian Dunker: https://www.youtube.com/watch?v=oiphctK5ZCc&

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