Como a psicanálise explica o fascismo?

Felippe Borges
3 min readOct 24, 2022

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Estamos vivendo momentos conturbados na política nacional. Um projeto político fascista, seja vencedor ou não das eleições, já está emaranhado nas entranhas da sociedade brasileira. Mas como entender a origem desse movimento? O psicanalista Wilheim Reich tentou responder essa pergunta na década de 1930, quando passou a observar a ascensão do fascismo na sociedade alemã.

Ao contrário das análises psicológicas simplórias sobre a ascensão do fascismo, Reich não recorre a termos como “psicopatia” ou “loucura” para explicar Hitler ou Mussolini. Para o autor, o fascismo é um modo de personalidade presente em qualquer pessoa, bastando que esse sentimento seja despertado. Aqui no Brasil, esse sentimento passou a dar as caras a partir de 2018, pelo menos.

Wilhelm Reich

O fascismo é um modo de personalidade de que pelo menos em alguma medida está presente em todo indivíduo pertencente à sociedade capitalista-liberal; ele é a “expressão da estrutura irracional do homem da massa. O “hitlerismo” não é exclusivo do partido nazi ou da Alemanha; ele penetra nas organizações de trabalhadores e nos círculos liberais e democráticos. O fascismo não é um partido político, mas uma certa concepção de vida e uma atitude perante o homem, o amor e o trabalho” (REICH, 1933/1988, p.17).

Uma das grandes questões dadas aos historiadores e filósofos da década de 1930 e 1940 era porque, após uma grave crise econômica, trabalhadores e trabalhadoras se voltaram para a extrema-direita. Afinal, a tese de Marx era que o comunismo se tornaria inevitável e em um momento tão complicado da história, o movimento da sociedade foi o oposto.

Para Reich, a grande questão a respeito do fascismo é uma questão psicológica. O núcleo familiar, especialmente aquele da classe média, é marcado por alta repressão sexual, o que tornaria a pessoa submissa a um líder autoritário, carismático e moralizante.

“Ora, é do nosso conhecimento que a repressão sexual serve para mecanizar e escravizar as massas humanas. Assim, sempre que se depara com a repressão autoritária e moralista da sexualidade infantil e adolescente, e com uma legislação sexual que a apóia, pode-se concluir, com segurança, a presença de fortes tendências autoritárias e ditatoriais no desenvolvimento social, independentemente dos chavões a que recorrem os respectivos políticos. Dessa maneira, o objetivo da moralidade fascista é a criação de indivíduos submissos que se adaptem à ordem autoritária. Assim, a estrutura autoritária do homem é basicamente produzida através da fixação das inibições e medos sexuais (repressão dos impulsos sexuais)” (Reich, 1982, p. 203).

Ora, se existe um discurso moralizante de repressão sexual, basta que um líder seja o condutor desse sentimento. Vemos que o modelo de repressão existente dentro do núcleo familiar se repete politicamente.

Indivíduos livres, conclui o autor, são indivíduos que não presos às inibições e amarras sociais e podem ser condutores de suas próprias histórias.

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📚 Sugestão de leitura complementar: https://blogdaboitempo.com.br/2018/06/04/a-psicologia-de-massas-do-fascismo-ontem-e-hoje-por-que-as-massas-caminham-sob-a-direcao-de-seus-algozes/

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